MARCELO ODEBRECHT RECUA DE ACUSAÇÃO CONTRA LULA.
O ex-presidente da
Odebrecht Marcelo Odebrecht disse ontem em depoimento à Justiça que seria
"tremendamente injusto" condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva por corrupção em uma ação envolvendo um financiamento do BNDES para obras
da empreiteira no exterior. O motivo, segundo ele, são "contradições"
em versões do ex-ministro Antonio Palocci e do empresário Emílio Odebrecht, pai
de Marcelo, sobre a participação do petista no caso. A afirmação representa um
recuo do ex-presidente da Odebrecht em relação a seu acordo de delação
premiada.
A declaração de Marcelo foi dada em depoimento ao juiz Vallisney
de Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília, em processo que trata
do pagamento de propina a integrantes do PT em troca de facilidades no governo
à Odebrecht. Além de Lula e Palocci, o ex-ministro Paulo Bernardo é réu na
ação.
"Tudo que eu soube de Lula foi através de meu pai, Palocci
e Alexandrino (Alencar, ex-executivo da Odebrecht que fez delação) E os
depoimentos deles estão cheios de contradições", disse Marcelo, que foi
ouvido via videoconferência. Ele prestou o depoimento em Osasco.
Marcelo havia mencionado antes, em delação, ter sido procurado
no fim de 2009 por Paulo Bernardo, a mando de Lula, para tratar de um pagamento
de US$ 40 milhões em troca da liberação de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão
para exportação de bens e serviços. O dinheiro seria usado pela Odebrecht para
obras em Angola.
Na audiência de ontem,
porém, o empreiteiro citou um depoimento prestado no mês passado por Emílio no
qual ele isentou Lula de qualquer pedido indevido para aprovação do
financiamento. Como Marcelo se baseava em um relato de seu pai envolvendo Lula,
ele disse não ter como sustentar a versão.
Contradição
Em depoimento em 27 de agosto na mesma ação, Emílio disse que,
"em nenhum momento", tratou com Lula sobre o assunto. "Eu lhe
confesso que tenho minhas dúvidas se ele estava efetivamente envolvido nisso.
Não acredito, até pela relação de mais de 25 anos."
A contradição citada por Marcelo é porque Palocci apresentou
outra versão no depoimento que prestou em julho à CPI do BNDES, mantido sob
sigilo. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, o ex-ministro afirmou ter
tratado com Lula sobre a destinação desses recursos acertados com a Odebrecht
em contrapartida à ampliação do crédito da empresa no banco de fomento.
"A essa altura do campeonato, eu não posso dizer nada.
Porque eu digo uma coisa, meu pai disse que falou comigo, falou com o Lula
outra. Então, eu acho que precisa esclarecer a participação de Lula
especificamente. Precisa ser esclarecida por meu pai e por Alexandrino. Por meu
pai e Palocci", disse Marcelo ontem. "Meu pai já disse que falava
para mim uma coisa e falava para Lula outra. Ele disse que se esqueceu de um
bocado de coisa."
Marcelo também corrigiu uma informação sobre os valores pagos
como propina pela Odebrecht para obter o financiamento. Em vez de US$ 40
milhões, disse que foram US$ 36,5 milhões. Ele manteve a versão de que o pedido
partiu de Paulo Bernardo e que Palocci foi o responsável por gerenciar os
valores indevidos destinados ao PT.
O procurador Carlos Henrique Martins de Lima, que atua no caso,
disse ainda não ser possível avaliar se há provas de envolvimento de Lula na
negociação. "Estamos numa fase da ação em que não acabamos de ouvir todas
as testemunhas", afirmou. Ele lembrou que o próprio Palocci ainda não
prestou depoimento na ação.
'Vínculo'
Para o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, os depoimentos
de Marcelo e de Emílio mostram que o petista "não praticou nenhum ato
ilícito". "Não há como sustentar vínculo com o ex-presidente. Se
ocorreu algum fato ilícito, não tem qualquer participação de Lula."
Em nota, a defesa de Marcelo Odebrecht disse que ele
"sempre afirmou não ser o responsável pelas tratativas e pela relação da
Odebrecht com Lula" e "reafirma seu compromisso com a efetividade do
seu acordo e com a verdade".
Fonte: Estadão Conteúdo
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