PREFEITO MORRE E É O PRIMEIRO A OCUPAR ÁREA NOVA DE CEMITÉRIO CONSTRUÍDA NA GESTÃO DELE
Morte do prefeito de Bonito de Minas
lembrou a história contada pelo dramaturgo Dias Gomes na novela O Bem-Amado.
José Pedro Pires da Rocha morreu de infarto quando voltava de reunião em
Brasília.
POR MICHELLY ODA, G1 GRANDE MINAS
A morte do prefeito de Bonito de Minas,
município no interior de MG, lembrou a história contada pelo dramaturgo Dias
Gomes na novela O Bem-Amado, que passou na TV Globo na década de 1970.
O corpo do prefeito José Pedro Pires da
Rocha (PSB), o Zé Galego, foi o primeiro a ser sepultado na área nova do
cemitério municipal, obra da gestão dele. Na novela da TV Globo,
o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, cria situações para “inaugurar” o
cemitério que construiu como promessa de campanha. Após várias tentativas
frustradas, morre e acaba sendo a primeira pessoa enterrada no local.
Alguns moradores, inclusive, já chegaram a mencionar a
história de “O Bem-Amado” para o prefeito falecido.
José
Pedro da Rocha tinha 64 anos e morreu enquanto voltava de Brasília (DF) na
sexta (17). Ele esteve no DF para assinar documentos para doação de máquinas
destinados ao município, de aproximadamente 11 mil habitantes.
“Ele viajava sozinho de carro e passou mal. Foi até um
hospital, onde permaneceu em observação, mas acabou liberado. Em seguida,
voltou ao hotel para buscar as malas e continuar a viagem. Passou mal
novamente, foi em outra unidade de saúde, infartou e morreu”, fala Miqueias
Figueredo, que foi convidado por Zé Galego para viajar até a capital federal,
mas não pode ir em razão de compromissos.
O vereador esclarece que a obra de ampliação era uma reivindicação
da população e dos vereadores, já que a parte antiga do cemitério, tem mais de
50 anos, não comportava mais túmulos.
“Tivemos vários transtornos, moradores foram enterrar
seus entes e havia outras ossadas no lugar. O Zé não era natural daqui e a
família não tinha um espaço na parte do cemitério que já existia, por isso,
pediram que fosse enterrado na parte nova”, diz.
A obra de ampliação do cemitério começou por volta de
outubro de 2019 e ainda não tem data para terminar. A Prefeitura precisa
construir uma capela e fazer adequações à infraestrutura, como instalação de
banheiros e interligação à rede de água e esgoto.
De caminhoneiro a
prefeito
Se o personagem de Odorico mostra um exemplo de político
corrupto e cheio de artimanhas, José Pedro da Rocha é lembrado como “homem
correto e honesto”, pelo vereador. Ele conta que o amigo era natural de Sete
Lagoas e veio ao Norte de MG para trabalhar transportando carvão. Tempos
depois, começou a trabalhar como taxista na Comunidade de São Sebastião do
Catulé e, seguindo os conselho dos passageiros que levava, se candidatou à
Câmara, mas não obteve sucesso.
Nas eleições seguintes, tentou novamente e foi eleito
vereador, primeiro cargo político que ocupou. Foi eleito vice-prefeito em 2016
e assumiu a Administração Municipal após o prefeito José Reis (PHS) se afastar
ao ser eleito deputado estadual, em 2018.
“Eu já fui oposição, mas conheci o trabalho dele e passei
a apoiá-lo. Foi um prefeito que conseguiu contornar as dificuldades financeiras
do município para pagar salários e outras despesas em dia. De tanto cuidar dos
interesses da população, acabou esquecendo dele e, infelizmente, morreu em
virtude de um problema de saúde”, lamenta.
Um dos filhos de Zé Galego disse ao vereador que o pai
passou mal há dois anos e um médico apontou que ele tinha uma veia com indícios
de entupimento.
Zé Galego
e vereador Miqueias — Foto: Arquivo Pessoal
Novo prefeito
Com o falecimento de Zé Galego, quem assume a Prefeitura
é Dilson Santana (PP), que era presidente da Câmara. Ele já apoiou a
administração anterior, mas após divergências, se declarou oposição.
“No fim do ano eu estive com o Zé e expliquei porque de
estar no lado contrário e ele ouviu meus motivos. Éramos opositores, mas de
forma respeitosa. A morte dele surpreendeu a todos e causou muita comoção”,
fala Santana, que diz estar fazendo um levantamento para dar sequência aos
trabalhos no município.
Ele diz que o novo desafio se impôs à vida política dele
no momento em que não pensava tentar se reeleger.
“Fui vereador por duas vezes, quando você se candidata a
um cargo, assume os desafios e tem que estar preparado para tudo. Mas confesso
que não pensava em tentar a reeleição, desanimei com a política, ao perceber
que muitos pensam em tirar proveito próprio e não colocam a população em
primeiro lugar”, destaca.

Dilson Santana assumiu Prefeitura — Foto: Arquivo Pessoal
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