CORONAVÍRUS: CEARÁ JÁ ESTÁ EM COLAPSO E PODE TER 250 MORTES POR DIA
Estado
é terceiro em número de casos confirmados (mais de 2 mil) e o quarto em óbitos
(103).
FONTE - PORTAL VERMELHO
por André Cintra
O secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Rodrigues
Sobrinho, o Dr. Cabeto
Sem apoio do governo Jair Bolsonaro e sob boicote de
empresários que tentam suspender o isolamento social, o Ceará vive uma explosão
da pandemia do novo coronavírus. Segundo a gestão Camilo Santana (PT), o
sistema público de Saúde, já saturado, precisa de ajuda com extrema urgência.
Há casos notificados de Covid-19 em todos os bairros da capital, Fortaleza, e
também em 59 municípios do interior.
Se a ajuda da gestão Bolsonaro não
chegar, o Ceará alcançará a dramática média de 250 mortes por dia em maio, conforme
a previsão de Carlos Roberto Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, secretário
estadual da Saúde. Para evitar que o sistema funerário também entre em colapso,
o governo cearense comprou 15 mil covas em cemitérios locais. É a única forma
de garantir que pacientes que morrerem de Covid-19 nas próximas semanas possam
ser enterrados.
Embora seja apenas o oitavo estado
brasileiro em população, o Ceará era, até esta terça-feira (14), o terceiro em
número de casos confirmados (mais de 2 mil) e o quarto em óbitos (103). A taxa
de incidência do coronavírus no Ceará é dez vezes superior à do estado de São
Paulo. Em março, o prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio (PDT), e o senador
Prisco Bezerra (PDT) – que são irmãos – testaram positivo para o coronavírus, a
exemplo do próprio secretário estadual da Saúde.
Na segunda-feira (13), Dr. Cabeto –
que é médico cardiologista – participou de reunião por videoconferência
promovida pelo Sindicato da Indústria da Construção do Ceará (Sinduscon-CE).
Diante de empresários que, de forma irresponsável, exigiam a suspensão do
isolamento social, o secretário fez um relato da situação caótica vivida pelo
estado. “No sistema público, eu não tenho mais leito de UTI, acabou. A
gente tinha uma compra da China, que tinha me prometido entregar 250
respiradores. Mas soube ontem (12) que não vou receber nenhum”, afirmou.
De acordo com o gestor, os EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual) da rede pública – fundamentais para
proteger os profissionais de saúde contra a Covid-19 – devem acabar nesta
semana. O Ceará depende, mais do que nunca, de uma doação do Ministério da
Saúde – daí a pressão sobre o ministro Luiz Henrique Mandetta.
“Os EPIs, máscaras, viseiras, luvas –
eles têm cinco dias de estoque. Estou escrevendo ao ministro (para
informar) que o sistema de saúde do Ceará colapsou. Vamos começar a ter
morte de pessoas não entubadas – já estão tendo”, informou o secretário aos
empresários da indústria da construção.
Medidas
O governo cearense tomou medidas para
combater a pandemia. Em entrevista coletiva nesta terça-feira (14), também por
videoconferência, Dr. Cabeto frisou que o reforço às unidades de terapia
intensiva foi uma das prioridades. “O estado já implantou 160 novos leitos de
UTI nas últimas três semanas”, afirmou. “Tínhamos previsto chegar a 690 leitos
extras, mas depende do SUS (Sistema Único de Saúde).”
Sem se intimidar com o discurso
bolsonarista ou com a chantagem empresarial, o secretário enfatizou que não
haverá afrouxamento do isolamento social – ao contrário. Segundo Dr. Cabeto, a
prevenção nas próximas semanas deve ser intensificada para controlar a expansão
do vírus no estado, evitando a sobrecarga dos hospitais e demais equipamentos
de saúde.
“O isolamento social está sendo
eficiente para reduzir o pico epidêmico no Ceará. Nós prevíamos o esgotamento
de leitos, mas isso não ocorreu devido ao isolamento precoce”, disse o
secretário. “O estado passa por uma mudança epidemiológica. Percebemos o
aumento significativo nos óbitos – que chegam a 103 – e sabemos que a maioria
está em regiões com menor IDH.”
A capital Fortaleza, quinta maior
cidade do País, é a que mais preocupa as autoridades. Um único bairro,
Meireles, onde foi registrado o primeiro caso de Covid-19 no Ceará, já tem 166
infectados – número superior ao de dez estados brasileiros. A periferia de
Fortaleza e municípios do interior também assistem à explosão da pandemia.
Mais testes
Uma das
estratégias do governo estadual é ampliar a testagem em profissionais de saúde
expostos ao coronavírus e em pacientes que apresentem sintomas de Covid-19 por
mais de uma semana. Por sinal, das promessas da gestão Bolsonaro ao governo
cearense, a doação de testes rápidos foi uma das poucas a serem cumpridas, de
acordo com Magda Almeida, secretária executiva da Vigilância e Regulação da
Secretaria da Saúde.
“Recebemos
19.200 testes rápidos do Ministério da Saúde e distribuímos aos municípios do
interior para aplicação nos profissionais de saúde que estão na linha de
frente. Agora, temos um novo lote com 37 mil exames rápidos, que serão
aplicados em pacientes internados na rede estadual para triagem rápida. Temos
ainda uma compra de 50 mil testes, que chegarão nos próximos dias”, informou
Magda, na entrevista coletiva.
Outra ação
importante, reforçada na segunda-feira (13), é o Contact Tracing – um
acompanhamento a distância dos casos suspeitos e confirmados. A medida é
voltada a pessoas que testam positivo para o coronavírus e ficam em quarentena,
na própria residência, por 14 dias. Nesse período, o governo telefona para eles
a cada dois dias.
Porém, se a
pessoa infectada for do grupo de risco, ela receberá uma visita domiciliar de
um dos 155 agentes capacitados pelo Programa de Treinamento em Epidemiologia
Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (EpiSUS Fundamental). O
objetivo: “saber o estado de saúde, prestar orientações e reforçar as medidas
de isolamento social e de higiene, necessárias para interromper a transmissão
do vírus”.
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