DATAFOLHA:PARA 89%, USO DA CLOROQUINA É DECISÃO DE MÉDICOS.
Larga maioria da
população brasileira avalia que a decisão sobre o uso da cloroquina no
tratamento contra a Covid-19 deve ser tomada por médicos, não por políticos,
mostra pesquisa Datafolha.
FONTE E
FOTO - FOLHAPRESS
O levantamento foi feito na sexta-feira (17) com 1.606 pessoas
ouvidas por telefone, para evitar contato pessoal, em todas as regiões do país.
A margem de erro é de três pontos percentuais.
Entre os entrevistados, 89% avaliam que os políticos devem
deixar para os médicos a definição sobre o uso do medicamento. Outros 7% acham
melhor os políticos incentivarem o uso da cloroquina, e 4% dizem não saber.
Usadas contra lúpus, malária, artrite reumatoide e doenças
inflamatórias, a cloroquina e a hidroxicloroquina têm sido testadas e
ministradas em pacientes infectados pelo novo coronavírus. As pesquisas sobre a
eficácia e a segurança das duas substâncias contra a doença, no entanto, ainda são
inconclusivas.
A cloroquina entrou no centro do debate político ao se tornar
uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que seguiu o discurso
de Donald Trump, nos Estados Unidos.
Bolsonaro tem divulgado o medicamento como grande esperança contra
a Covid-19, defendendo sua utilização inclusive para o estágio inicial da
doença.
Atualmente, o protocolo do Ministério da Saúde indica que
somente pacientes hospitalizados com quadros graves e críticos de Covid-19
devem ser tratados com cloroquina ou hidroxicloroquina.
Isso não impede que médicos prescrevam os medicamentos em outras
condições, como afirmou o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta antes
de ser demitido, na última quinta-feira (16). Ele ressaltou, porém, que devem
ser levados em conta os riscos do medicamento, especialmente os associados ao
coração.
A pesquisa Datafolha mostra que a visão de que o uso da
cloroquina deve ser uma decisão médica é majoritária, sem grandes variações, em
todos quase todos os estratos do levantamento, como os de gênero, renda, idade,
escolaridade, ocupação e localização do município.
Já o apoio a que políticos incentivem o uso do medicamento sobe,
ainda que permaneça minoritário, entre os que querem acabar com o isolamento
social (15%), entre os que pensam que Bolsonaro agiu bem ao demitir Mandetta
(18%), entre os que avaliam a gestão Mandetta no combate ao coronavírus como
ruim/péssima (21%) e entre os que avaliam o governo estadual como ruim/péssimo
em relação ao vírus (15%).
Todos esses estratos também são minoritários. Como a Folha de SP
mostrou na quinta-feira, 64% dos ouvidos pelo Datafolha reprovam a demissão de
Mandetta.
Na semana passada, os entusiastas da cloroquina usaram como
argumento a favor de sua posição um estudo da operadora de saúde Prevent
Senior, ainda não publicado em periódicos científicos, que afirma que o uso
combinado de hidroxicloroquina e azitromicina reduz as internações em pacientes
com Covid-19.
O próprio autor do estudo, no entanto, disse à Folha de S.Paulo
que a forma como a pesquisa foi feita impede que sejam tiradas conclusões sobre
o uso das drogas contra o novo coronavírus. Entre as limitações, está o fato de
que não se sabe se os pacientes pesquisados estavam mesmo infectados pelo novo
coronavírus.
Recentemente, outra pesquisa, conduzida por profissionais de
instituições como a Fundação de Medicina Tropical (FMT), de Manaus, a Fiocruz e
a USP, concluiu a cloroquina em alta dose, como ministrada na China, resultava
em mais efeitos colaterais e não deveria ser usada nessa quantidade.
Parte dos pacientes que receberam a dosagem maior morreram, e os
pesquisadores passaram a receber ameaças. "O debate não apenas está tendo
forte viés ideológico, mas também prejudicando a reputação de pesquisadores com
forte tradição de pesquisa no Brasil e no mundo, o que pode ser um efeito
deletério grave em momentos como o que estamos vivendo", afirmaram os
autores da pesquisa em comunicado.
PESQUISA FOI FEITA POR TELEFONE PARA EVITAR CONTATO
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, procura representar o total da população adulta do país, mas não se compara à eficácia das pesquisas presenciais feitas nas ruas ou nos domicílios.
Por isso, apesar de aproximadamente 90% dos brasileiros
possuírem acesso pelo menos à telefonia celular, o Datafolha não adota o método
em pesquisas eleitorais, por exemplo.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização
de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos. Além disso, torna
mais difícil o contato com os que não podem atender ligações durante
determinados períodos do dia, especialmente os de estratos de baixa
classificação econômica.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de
sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos
resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma
cautela.
Nesta pesquisa, feita dessa forma para evitar o contato pessoal
entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações
técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo
que se pretende representar.
Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários de suas casas através de central telefônica remota.
Os limites impostos pela técnica telefônica não prejudicam as
conclusões pela amplitude dos resultados apurados e pelos cuidados adotados.
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