MÉDICO VÍTIMA DE COVID-19 MANDOU ÁUDIO DE ADEUS PARA O FILHO.
Isadora Freitas em 03 de abril de 2020
FONTE - PORTALFOLHAPRESS
O médico anestesista Diamir Gomes, 74, teve
um pressentimento ruim na quarta-feira (25). Estava havia alguns dias com
sintomas de gripe, mas percebeu uma piora acelerada na respiração. Mandou então
um áudio por Whatsapp para o filho Diego dizendo que ia para o hospital e que
não sabia se voltaria: “Fique bem, é a vida”. Foi o último contato do pai antes
de morrer por complicações decorrentes do novo coronavírus.
Diamir
morreu na manhã de sexta-feira (27), em Santos, litoral de São Paulo. Ele
resistiu o quanto pode em se internar por medo de contrair o vírus. Tinha sido
dispensado há poucos dias de dar plantões no hospital onde trabalhava em São
Paulo por pertencer ao grupo de risco.
A
história da família Gomes é marcada por perdas. Em 2001, morreu Iria, mulher de
Diamir, de câncer. Um ano e meio depois, uma brincadeira de adolescente feita
por Ana Carolina, irmã mais velha de Diego, acabou em tragédia. Ela e a prima
inventavam cremes, mas um deles, aplicado pela jovem no rosto antes de dormir,
resultou em reação alérgica fatal. Morreu aos 16 anos.
Diego,
então com 14 anos, precisou aprender a ser mais próximo do pai. Acabaram
virando grandes amigos.
As
pessoas próximas definem Diamir como um sujeito brincalhão, sempre de bem com a
vida e extremamente generoso. Certa vez, bancou uma cirurgia do zelador de um
prédio onde morava. Em outra, deu R$ 500 (cerca de dois salários mínimos, à
época) para outro porteiro, que estava com as remunerações atrasadas do
condomínio e enfrentando dificuldades. “Meu pai tinha um coração maior do que
tudo”, lembra Diego.
O
também estudante de medicina Marcelo Beser, 30, diz a mesma coisa. Amigo da
família há mais de 16 anos, ele foi criado como um sobrinho por Diamir, segundo
suas próprias palavras. “Sempre foi um cara que não ligava para dinheiro.
Levava todo mundo que o Diego quisesse para viagens, restaurantes, não cobrava
nada e nunca jogou na cara.”
Nascido
em Rio Brilhante, cidade pequena do Mato Grosso do Sul, Diamir saiu de lá para
trabalhar como farmacêutico em Curitiba. Com o sonho de ser médico, mudou-se
para o Rio de Janeiro e começou a dar aulas de matemática e física em cursinhos
para pagar o curso de medicina.
No
Rio, conheceu a enfermeira Iria, com quem se casou. Mudaram-se para São Paulo
para trabalhar, mas escolheram morar em Santos para criar os filhos perto da
praia. O médico subia e descia a serra todos os dias.
Diego
diz que não sabe como o pai contraiu o Covid-19. Se pudesse responder à
mensagem de áudio do pai, ele diria que fará tudo para dar orgulho “a ele lá em
cima”.
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