PARA FREAR NOTÍCIAS FALSAS, WHATSAPP REDUZ EM 70% REENVIO DE MENSAGENS VIRAIS.
Foto: Roberta Aline/ Cidadeverde.com
RENAN MARRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Bombardeado por grupos
que disseminam mensagens falsas em todo o mundo, o WhatsApp anunciou que houve
redução em 70% do número de mensagens frequentemente encaminhadas.
No começo do mês, a empresa atualizou o aplicativo limitando o
reenvio de conteúdos populares para um contato por vez. Antes, uma mensagem
retransmitida diversas vezes podia ser repassada pelo usuário para até cinco
pessoas ou grupos.
O objetivo, segundo o WhatsApp, é combater a desinformação e
reforçar o caráter privado e pessoal da plataforma. Durante a pandemia do novo
coronavírus, o aplicativo tem sido um dos principais canais de disseminação de
notícias falsas.
Mais da metade das sugestões enviadas ao site do Comprova,
coalizão que reúne 24 veículos de imprensa na checagem de conteúdos sobre
coronavírus, são informações que circulam no WhatsApp. Nos últimos 30 dias, 58%
das cerca de 6.000 mensagens recebidas eram do aplicativo de mensagem, de
acordo com Sérgio Lüdke, editor do projeto.
"Os usuários se sentem mais confortáveis para falsificar
informações nos aplicativos de mensagens porque são ferramentas que deixam
pouco vestígio", diz Lüdke. "No WhatsApp, uma pessoa que envia uma
mensagem pode dizer que a recebeu de alguém, e isso causa pouco
constrangimento".
Nas redes sociais, o registro da data e do horário das
publicações, bem como uma lista de contato mais ampla, deixa os usuários mais
cautelosos quanto ao conteúdo publicado, segundo Lüdke.
Assim como no Brasil, outros países do mundo são inundados com
notícias falsas. No Canadá, por exemplo, manifestações nas redes estimularam
protesto na cidade de Vancouver neste mês. Manifestantes favoráveis a
reabertura da economia afirmavam que o coronavírus não passa de "fake
news".
Manifestação parecida aconteceu no estado de Ohio, nos Estados
Unidos, onde dezenas de pessoas protestaram em frente à sede do governo.
No Brasil, a pandemia do coronavírus reativou grupos militantes
no WhatsApp e aumentou a produção das notícias falsas, segundo Fabrício
Benevenuto, professor do Departamento de Ciência da Computação da UFMG e
coordenador do sistema WhatsApp Monitor, que acompanha 720 grupos públicos no aplicativo.
As mensagens costumam ter o mesmo padrão: acusam os governadores
de inflarem números, trazem relatos de pessoas que se passam por profissionais
da saúde ou coveiros negando a gravidade da pandemia ou apelam para que as
pessoas voltem a trabalhar. A produção de notícias falsas cresce em dias de
grandes acontecimentos, como as demissões dos ex-ministros do governo Bolsonaro
Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, segundo Benevenuto.
A atualização do aplicativo, que limita o reenvio de mensagens
populares, é uma boa iniciativa para frear a disseminação das notícias falsas,
mas não o suficiente para barrá-las, segundo o professor de gestão de políticas
públicas da USP e colunista da Folha Pablo Ortellado.
Segundo ele, a atualização não impede efetivamente uma pessoa
com motivação política de disseminar as notícias falsas. Apesar de limitar o
reenvio de mensagens para um contato por vez, não há número máximo para
encaminhamento de conteúdos, e o usuário ainda pode enviá-los para quantas
pessoas quiser.
Por isso, ele defende desabilitar as listas de transmissão -que
hoje alcançam até 255 contatos- e diminuir o tamanho de grupos.
Ortellado afirma também ser necessário que apenas contatos
possam incluir pessoas em grupos. Hoje esse recurso não é padrão e precisa ser
alterado de forma manual. "A situação atual é urgente e exige mais
rapidez", afirma.
O professor da UFMG Fabrício Benevenuto também afirma ser fácil
driblar o limite de reenvio de mensagens do WhatsApp.
Se o usuário baixar um arquivo no seu aparelho e encaminhá-lo,
por exemplo, o conteúdo deixa de ser considerado popular.
As chamadas mensagens encaminhadas com frequência são rotuladas no aplicativo com setas duplas. A sinalização indica que a mensagem não se originou de um contato próximo.
As chamadas mensagens encaminhadas com frequência são rotuladas no aplicativo com setas duplas. A sinalização indica que a mensagem não se originou de um contato próximo.
No início do mês, o WhatsApp, que pertence ao Facebook, afirmou
ter observado aumento significativo na quantidade de encaminhamentos, o que
pode "contribuir para a disseminação de informações erradas".
Além de limitar o reenvio de mensagens, o WhatsApp afirma que
lançou em parceria com a OMS (Organização Mundial da Saúde) um sistema gratuito
para tirar dúvidas e informar sobre a evolução do novo coronavírus e os
cuidados para conter a contaminação da doença.
A ferramenta chamada Alerta de Saúde responde a uma série de
solicitações por meio de mensagens automáticas e funciona durante 24 horas.
Para acessá-la, basta salvar o número +41 22 501 7735 na agenda de contatos do
telefone e enviar qualquer palavra em uma mensagem no WhatsApp.
A empresa afirma também ter doado US$ 1 milhão (R$ 5,56 milhões)
à IFCN (Rede Internacional de Checagem de Fatos) para expandir o número de
organizações de averiguação que trabalham com a plataforma.
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