FRONTEIRAS-PI | “ESSE VÍRUS NÃO ESCOLHE CULTURA, RAÇA E COR”, DIZ FISCAL QUE ESTÁ HÁ 50 DIAS EM BARREIRA SANITÁRIA
Foto:
Prefeitura de Fronteiras.
Hérlon Moraes
herlonmoraes@cidadeverde.com
herlonmoraes@cidadeverde.com
A pandemia causada pelo novo coronavírus mudou a
rotina de profissionais na tentativa de barrar a disseminação da covid-19 no
Brasil. Na área de saúde, por exemplo, muitos estão se desdobrando para dar
conta de inúmeras demandas. É o caso dos fiscais das vigilâncias sanitárias dos
municípios piauienses. Eles estão na linha de frente das barreiras sanitárias
instaladas em mais de 70 cidades. O objetivo é evitar que pessoas que chegam de
outros estados transmitam o coronavírus no interior. O Cidadeverde.com foi
atrás desses profissionais e encontrou a Tailândia Sousa, que está há mais de
50 dias comandando a fiscalização no município de Fronteiras.
O município - que fica a 400km ao Sul de Teresina -
é estratégico para o combate ao coronavírus, já que faz divisa com o Ceará, um
dos mais afetados no país pela covid-19, com 14.956 casos e 966 mortes.
“Estamos há mais de 50 dias nesse trabalho. Tem sido muito intenso e cansativo,
mas é gratificante em poder ajudar a população do meu município no combate ao
covid-19. Trabalhamos com fiscalização de estabelecimentos essenciais e não
essenciais e o monitoramento na barreira”, disse ao Cidadeverde.com.
BR-230 liga o municipio de Fronteiras
ao Ceará. Foto: Google Maps
Tailândia trabalha na área de vigilância sanitária
há 15 anos, destes, dez anos são como gerente da Vigilância Sanitária de
Fronteiras. Mãe do Bruno e do Gustavo, ela se considera uma guerreira, mas não
esconde o medo do coronavírus.
“Está na linha de frente dá medo. A gente sai cedo
e não tem hora pra voltar pra casa. Estamos lidando com todo público. Estamos
atuando nas barreiras sanitárias fazendo o monitoramento das pessoas que estão
chegando. O meu maior medo como profissional de vigilância sanitária é contrair
esse vírus e trazer pra dentro da minha casa. O medo faz parte e nos dá coragem
de continuar a batalha todos os dias para retardar a chegada do vírus em nosso
município. Esse trabalho precisa seguir. A população precisa muito, nesse
momento, desse trabalho da vigilância sanitária”, afirma.
Fiscal higieniza clientes de uma
lotérica em Fronteiras.
Para Tailândia, evitar o coronavírus é uma tarefa
de todos, já que ele não distingue classe social.
“A lição que eu tiro é que nós somos acostumados a
viver em sociedade e por razões obvias hoje a gente tem que se recolher. Não ir
às ruas sem necessidade e em estabelecimentos não essenciais. A sensação de
fragilidade hoje toma conta da gente. A gente não sabe como lidar. Esse
vírus não escolhe cultura, raça e cor. Estamos todos em um mesmo barco. É
difícil para a sociedade distinguir este problema. Problema que não é só meu,
mas do mundo todo”, ressalta, lembrando que a “guerra” contra o coronavírus
requer união.
“Ricos e pobres estão sendo enterrados ao redor de
todo o mundo. O momento atual traz a oportunidade de exercitar a solidariedade
e se preocupar com o bem de todos. A lição que eu tiro, é que em relação à
covid-19, somos todos iguais e estamos no mesmo barco. Ou cada um faz a sua
parte ou a gente não vai conseguir vencer essa guerra. Juntos somos mais
fortes”, afirma.
A gerente de Vigilância Sanitária relata os mesmos
medos de toda a população, só que com uma particularidade: sai de casa todo dia
para tentar barrar o vírus.
“Minha rotina nesses 50 dias é trabalho e casa. Eu
tenho muito medo. Como eu moro próximo aos meus pais e eles já moram em cidade
com casos positivos, a tensão só aumenta. O medo de você não poder estar do
lado das pessoas que você ama. Tenho dois filhos que ficam comigo. Meu medo é
intenso. Mal se consegue dormir direito, mas estamos aqui firmes e fortes que
tudo isso vai passar e vamos sair sem maiores estragos”, declarou.
Além da barreira sanitária, Tailândia atua na
fiscalização de estabelecimentos, outro desafio. “Tem sido muito difícil esse
trabalho de rua, já que tem as loterias e bancos onde concentra um fluxo de
pessoas muito grande devido ao pagamento do auxilio emergencial. A gente tem
tentado. É muito intenso o trabalho”, finalizou.
Mais de 4 mil pessoas assinaram termo
de quarentena
Desde o início das medidas de isolamento, mais de
4.500 pessoas assinaram termos de quarentena. Essas pessoas vieram de outros
estados e passaram pelas barreiras sanitárias, que no Piauí foram instaladas em
80 municípios.
Segundo a diretora da Vigilância Sanitária do
Piauí, Tatiana Chaves, ao longo do tempo de isolamento, conforme o protocolo da
Organização Mundial de Saúde (OMS) e Ministério da Saúde, se a pessoa que não
apresentar os sintomas da Covid-19, ela é liberada. “O objetivo é fazer que as
pessoas que vêm de fora, de outros estados não propaguem doenças em seus
municípios”, disse a diretora.
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