TERROMPEU A ANÁLISE · MINISTRO KASSIO NUNES ADIA JULGAMENTO SOBRE POLÍTICA DE ARMAS DE BOLSONARO
MARCELO ROCHA (FOLHAPRESS)BRASÍLIA, DF
O ministro Kassio Nunes Marques, do STF (Supremo Tribunal
Federal), pediu vista (mais tempo para analisar o assunto) e interrompeu a
análise dos processos que contestam a legalidade dos decretos presidenciais que
facilitam o acesso a armas no país.
O placar parcial contabiliza, até o momento, três votos
contrários aos interesses do Palácio do Planalto. Não há previsão de data para
a retomada.
Kassio foi indicado à corte por Jair Bolsonaro (sem partido),
e a iniciativa de paralisar o julgamento adia um veredito cuja tendência é ser
desfavorável à política armamentista do presidente, uma promessa de campanha.
Parte das alterações normativas implementadas pelo Executivo
foram suspensas por decisões monocráticas, válidas até que o Supremo, no
mérito, as confirme ou não.
Um outro pedido de vista, feito em abril pelo ministro
Alexandre de Moraes, adiou por meses a discussão. À 0h desta sexta-feira (17),
o debate foi reiniciado, mas pouco depois foi mais uma vez interrompido. A
análise está sendo feita no plenário virtual, com votos por escrito.
Alvo de ataques recentes de Bolsonaro por causa das
investigações que miram o presidente e seus apoiadores, Moraes liberou na
semana passa o caso para a continuação do julgamento.
E votou favorável à suspensão dos decretos do chefe do
Executivo, juntando-se aos colegas Rosa Weber e Edson Fachin, que já havia se
posicionado nesse sentido.
Os ministros do Supremo avaliam 14 ações que abordam uma
série de normas do governo federal sobre posse, compra, registro e tributação
sobre armas e munições.
A contestação desses atos foi feita por partidos políticos
adversários do Palácio do Planalto logo após a assinatura dos decretos por
Bolsonaro.
Nesta quinta-feira (16), em decisão que também foi submetida
a confirmação pelo STF, Moraes suspendeu a eficácia de portarias que revogavam
as normas que instituíram o SisNar (Sistema Nacional de Rastreamento de
Produtos Controlados pelo Exército).
Ações ajuizadas no Supremo questionaram a portaria do Comando
Logístico do Exército, um órgão de assessoramento superior, que revogou regras
mais rígidas para marcação, controle e rastreamento de armas e munições no
país.
Segundo o magistrado, as portarias revogadas previam a adoção
de soluções técnicas para a efetividade e a eficiência da ação do Estado em
relação ao comércio ilegal de armas e munições e à repressão a crimes cometidos
com armamento e munição ilegais.
"A revogação desses atos careceu de motivação idônea a
justificar a não implementação das ferramentas de controle neles previstas, bem
como não foi acompanhada de qualquer medida paliativa ou intermediária, mesmo
já transcorrido período razoável de tempo desde sua edição", afirmou.
Moraes frisou que a recusa pelo poder público em implementar
as medidas de marcação e rastreamento de armas e munições produz um resultado
"incongruente e incompatível" com o princípio da eficiência, no
contexto das políticas de segurança pública.
Na avaliação dele, ao deixar de exercer a competência
constitucional para o controle e a fiscalização de armas de fogo, o Estado
expõe a segurança pública a riscos.
A eficiência na prestação da atividade de segurança pública,
destacou o ministro, é garantia essencial para a estabilidade democrática no
país e deve se caracterizar pela absoluta cooperação entre os poderes públicos
de todos os entes federativos.
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