BOLSONARO DECIDE AFASTAR MILTON RIBEIRO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
Com a saída de
Ribeiro, o MEC deve ficar sob o comando do secretário-executivo, Victor Godoy
Veiga.
RICARDO
DELLA COLETTA, PAULO SALDAÑA E MATEUS VARGAS
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) –
O ministro Milton Ribeiro, da Educação, deve ser afastado do
cargo para tentar reduzir o desgaste do governo no caso dos pastores acusados de negociar a liberação de verbas da
pasta em troca de vantagem indevida.
Interlocutores relataram à Folha de S.Paulo que Ribeiro
discutiu o tema com o presidente Jair Bolsonaro (PL). A ideia -dizem
aliados- é que o titular da pasta argumente que vai se licenciar do posto para
se concentrar na sua defesa. Com a saída de Ribeiro, o MEC deve ficar sob o
comando do secretário-executivo, Victor Godoy Veiga. Mas aliados do centrão já
cobiçam o cargo.
Segundo o Antagonista, Milton deve deixar o cargo no
dia 1º de abril e a cúpula do governo agora discute uma saída honrosa para o
ministro, provavelmente através de uma “licença”.
Ainda segundo a publicação, o ministro da Educação só não
caiu na semana passada por intervenção de Eduardo e Flávio Bolsonaro.
Bolsonaro disse na semana passada que bota a cara no fogo por
Ribeiro. A pressão pela saída de Ribeiro se intensificou depois
que, na segunda-feira (21), a Folha revelou uma conversa gravada em que Milton
Ribeiro afirma que o governo prioriza os amigos de pastores que não têm cargo e
atuam em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC (Ministério da
Educação).
Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm, ao
menos desde janeiro de 2021, negociado com prefeituras a liberação de recursos
federais para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos
de tecnologia. Os dois têm acesso livre no MEC, organizaram agendas com o
ministro e negociavam recursos do MEC em um hotel de Brasília.
Os dois pastores têm proximidade com Bolsonaro desde o
primeiro ano do governo. A atuação dos religiosos foi revelada pelo jornal O
Estado de S. Paulo. No áudio, o ministro diz que a priorização ao amigos do
pastor Gilmar atende solicitação do presidente Jair Bolsonaro.
"Foi um pedido especial que o presidente da República
fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o Milton Ribeiro na
conversa em que participaram prefeitos e dois religiosos.
Na semana passada, Ribeiro negou em nota ter determinado
alocação de recursos para favorecer qualquer município. Ele afirmou que
Bolsonaro não teria pedido para que os pleitos dos pastores fossem atendidos,
mas somente que todos os indicados por eles fossem atendidos.
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Arilton Moura (ao fundo) e Gilmar Santos (Foto: Reprodução)
Também na semana passada, em declaração ao jornal O Estado de
S. Paulo, o prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município maranhense de Luis
Domingues, afirmou que um dos pastores envolvidos no esquema pediu 1 kg de ouro
para conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.
Segundo o gestor, o pedido foi feito em um restaurante de
Brasília na presença de outros políticos. A Folha confirmou o relato do
prefeito com outras duas pessoas presentes no local onde o pedido de propina
foi feito.
As revelações no MEC resultaram na instauração de apurações.
A Polícia Federal abriu na sexta-feira (25) dois inquéritos que miram a atuação
dos pastores na liberação de verbas MEC. O primeiro deles foi aberto na
Superintendência da PF no Distrito Federal e irá apurar as suspeitas apontadas
em um relatório da Controladoria-Geral da União sobre distribuições de verbas
do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação).
A outra investigação foi instaurada na sede do órgão, no
setor que cuida de inquéritos que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), e
tem como alvo o ministro Milton Ribeiro e a fala dele em áudio revelado. No
caso do ministro, serão apuradas suspeitas de corrupção passiva, tráfico de
influência, prevaricação e advocacia administrativa.
O inquérito que mira Ribeiro foi autorizado pela ministra
Cármen Lúcia, do STF, e atendeu a pedido do procurador-geral da República,
Augusto Aras. Além do flanco jurídico, o caso envolvendo Ribeiro e os pastores
tem potencial de prejudicar a campanha pela reeleição de Bolsonaro.
Pessoas próximas ao presidente chegaram a aconselhá-lo desde
que o caso eclodiu a demitir o ministro da Educação, justamente para evitar o
desgaste político. Bolsonaro, no entanto, resistiu a demitir o auxiliar. O
principal argumento da ala que defende a demissão -ou ao menos o afastamento-
do ministro é que as suspeitas abalam o discurso repetido à exaustação por
Bolsonaro de que ele comanda um governo sem corrupção.
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