CÂMARA APROVA LIMITE DE ICMS SOBRE ENERGIA, MAS ESTADOS PLANEJAM BARRAR.
Medida, que ainda será analisada pelo Senado, também limita
tributo estadual a 17% para internet, telefonia e transporte público.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (25) o
texto-base do projeto que limita o ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) sobre energia e combustíveis. Além disso, o Congresso
inseriu no texto uma nova tentativa de fixar a tributação sobre o diesel.
O texto-base do projeto foi aprovado por 403 a 10, e agora os
deputados precisam votar sugestões para modificar a proposta -que, depois,
segue para o Senado. Os estados, no entanto, reagem ao texto e já falam em
barrar a proposta na Casa vizinha ou até no STF (Supremo Tribunal Federal).
O projeto faz parte de uma ofensiva do presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), para tentar reduzir o preço da energia no país, em meio à
preocupação de aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o impacto da
inflação sobre as eleições.
O texto aprovado nesta quarta-feira classifica combustíveis,
gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo como bens e
serviços essenciais. Com isso, valeria entendimento do STF que limita a
incidência do imposto a a esses itens a uma faixa de 17% a 18%.
A proposta final da Câmara passou a prever uma compensação a
estados em caso de perda de arrecadação. Para entes endividados, a União
ficaria autorizada a deduzir do valor das parcelas dos contratos de dívidas as
perdas de arrecadação superiores a 5% em relação a 2021. A dedução vai até 31
de dezembro de 2022 ou até a dívida acabar.
Estados em regime de recuperação fiscal terão as perdas com
arrecadação compensadas integralmente. Estados sem dívida ficam sem
compensação.
O projeto prevê a possibilidade de compensação também a
municípios. "De ontem [terça, 24] para cá, houve a procura muito grande de
diversos deputados e prefeitos, associações de prefeitos, no sentido de que a
gente pudesse também estender essa trava aos municípios, haja visto que 25% da
receita com ICMS é compartilhada com esses municípios", afirmou o relator
do texto, Elmar Nascimento (União Brasil-BA). "E nós estamos estendendo
essa garantia também aos municípios."
Em ofício, o presidente do Comsefaz (Comitê Nacional dos
Secretários de Fazenda dos Estados e do DF), Décio Padilha, critica a medida.
Ele afirma que só o impacto do congelamento dos combustíveis será de R$ 37
bilhões neste ano e que, de novembro de 2021 a abril deste ano, a frustração de
receita real gira em torno de R$ 17 bilhões.
"Mesmo com essa significativa perda de receitas, a
Câmara dos Deputados agora pretende aprovar projeto cujo impacto financeiro
para os estados e o Distrito Federal poderá ser entre R$ 64,2 bilhões e R$ 83,5
bilhões por ano, o que torna impraticável levar este projeto adiante",
afirmou.
"Tais valores representam patamares mínimos, aos quais
podem ser acrescidos outros fatores que os tornem mais graves, caso sejam
consideradas a repercussão do congelamento ou limites ainda mais elevados no preço
dos combustíveis."
André Horta, diretor institucional do Comsefaz, afirma que as
compensações previstas no projeto são baseadas em um gatilho que não deve ser
acionado. Ele diz que as receitas com o ICMS têm crescido naturalmente a um
ritmo anual superior a 15% em muitos estados -portanto, mesmo com o corte de
arrecadação a ser aplicado pelo projeto, os governadores acabariam sem
contrapartidas.
Segundo ele, a estratégia agora será impedir que o projeto
avance no Senado e, se for o caso, no STF. "Onde for", disse.
Mais cedo, antes do novo relatório, a FNP (Frente Nacional
dos Prefeitos) havia estimado uma perda de receita de R$ 21 bilhões caso os
municípios não fossem contemplados pela medida compensatória.
O relatório também muda lei complementar que trata da
incidência de ICMS sobre diesel para prever que a base de cálculo do imposto
será, até 31 de dezembro deste ano, a média de preços dos últimos cinco anos.
A lei, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo
presidente Jair Bolsonaro prevê a adoção de uma alíquota única de ICMS sobre
combustíveis, a ser regulamentada pelo Confaz. O colegiado é formado por
representantes do Ministério da Economia e pelos secretários estaduais de
Fazenda.
Os estados haviam costurado uma alíquota máxima com
"fatores de equalização" individuais para cada estado -na prática,
eles poderiam manter a cobrança nos mesmos níveis de antes da nova lei.
O formato foi a maneira encontrada de cumprir a lei sem impor
ônus aos governadores, seja ele financeiro (pelo prejuízo na arrecadação), seja
político (de ampliar a carga tributária em seus estados). Para o governo
federal, porém, a regulamentação representa um drible à lei.
O governo recorreu ao STF. Na terça-feira, o ministro André
Mendonça deu 48 horas de prazo "improrrogável" para que todos os
estados e o Distrito Federal prestassem informações na ação em que o governo
tenta garantir a redução da cobrança do ICMS sobre o diesel pelos estados.
O projeto aprovado nesta quarta é uma nova tentativa de fixar
a tributação sobre diesel.
O texto inclui ainda mudanças nos conselhos de supervisão dos
regimes de recuperação fiscal dos estados para prever três titulares com
experiência profissional e conhecimento técnico nas áreas de gestão de finanças
públicas, recuperação judicial de empresas, gestão financeira ou recuperação
judicial de empresas, gestão financeira ou recuperação fiscal de entes
públicos.
Lira e o ministro Paulo Guedes (Economia) fazem um esforço
conjunto para tentar reduzir a resistência do presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), ao texto.
O time de Guedes argumenta que os governadores estão com
caixas cheios e que é preciso devolver essa receita diretamente à população em
vez de partir para soluções vistas como ineficazes -como a criação de
subsídios. Por isso, o corte de impostos é considerado o ato mais adequado.
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