LIDER QUILOMBOLA FOI ASSASSINADA A TIROS NO ESTADO DA BAHIA.
Maria Bernadete Pacífico, era líder do Quilombo Pitanga dos Palmares e defendia os direitos dos quilombolas e o respeito à cultura da comunidade
Maria Bernadete Pacífico, líder do Quilombo Pitanga dos Palmares e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho (BA), foi assassinada a tiros na noite de quarta-feira (17/8). De acordo com o Ministério da Igualdade Racial, o terreiro de Mãe Bernadete, situado em Simões Filho (BA), foi invadido por dois criminosos com capacetes, que fizeram familiares reféns antes de executar a religiosa.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, ordenou às polícias Militar e Civil que sejam firmes na investigação do caso. Não é a primeira vez que a família de Bernadete e a comunidade quilombola Pitanga dos Palmares vivencia a violência brutal: o filho da religiosa, conhecido como Binho do Quilombo, foi assassinado em setembro de 2017.
Para a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), as mortes têm o mesmo responsável. A entidade afirma que as lideranças quilombolas e terreiros de Simões Filhos sofrem ameaças contínuas de grupos ligados à especulação imobiliária, prática de mercado em que terrenos e imóveis são comprados para serem vendidos a preços mais altos.
“Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho tava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada. Muito triste para nós”, lamentou Denild Rodrigues, da Conaq.
O quilombo liderado por Bernadete é composto de 289 famílias e tem 854,2 hectares, que foram reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação ainda não foi concluído.
Mãe Bernadete lutava por Justiça pelo assassinato do filho. Ela também marcou a cidade de Simões Filho pela luta ao respeito e direitos às comunidades quilombolas. Foi secretária de Política de Promoção da Igualdade Racial do município, entre 2009 e 2016, na gestão de Eduardo Alencar (PSD).
A religiosa também lidera uma associação de 120 agricultores, responsáveis pela produção e venda de farinha para vatapá, frutas e verduras, entre elas abacaxi, banana da terra e maracujá.
Ministério da Igualdade Racial e Conaq cobram investigações
A morte de Bernadete foi lamentada pelo Ministério da Igualdade Racial e a Conaq. Em nota, a Conaq define a religiosa como “uma mulher tão sábia e de uma verdadeira liderança”. “Sua partida prematura é uma perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos”, disse a entidade.
A entidade também exigiu que o Estado não deixasse o assassinato passar impune. “É dever do Estado garantir que haja uma investigação célere e eficaz e que os responsáveis pelos crimes que têm vitimado as lideranças desse Quilombo sejam devidamente responsabilizados. É crucial que a justiça seja feita, que a verdade seja conhecida e que os autores sejam punidos”, escreveu a instituição em nota.
“Queremos justiça para honrar a memória de nossa liderança perdida, mas também para que possamos afirmar que, no Brasil, atos de violência contra quilombolas não serão tolerados”, acrescentou.
O Ministério de Igualdade Racial, liderado por Anielle Franco, também defendeu uma investigação célere e informou que está em contato com as autoridades da Bahia para “apurar melhor o caso”. A pasta também enviará, nesta sexta-feira (18/8), uma comitiva para uma reunião presencial com órgãos do estado e para fazer um “atendimento às vítimas e familiares”.
“Mãe Bernadete tinha muitas lutas, e a luta pela liberdade e direitos para todo o povo negro e de terreiro tranversalizava todas. Que os orixás acolham Mãe Bernadete, yalorixá, defensora de direitos humanos, mãe de vítima de violência e política. Toda a solidariedade aos familiares”, acrescenta o ministério em nota.
Fonte: Talita de Souza/Correio Braziliense
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