CABRAS A VEADOS - POR QUE O CEARÁ CLONA ANIMAIS E PARA PESQUISAS?
Estudos para “multiplicar” os bichos impactam áreas como saúde e até meio ambiente
De cabras a veados: por que o Ceará clona animais e para que servem | Reprodução
Produzir um organismo vivo idêntico a outro em ambiente laboratorial pode parecer algo saído de um enredo fictício, no entanto, essa prática já é uma realidade no Ceará há vários anos. Desde cabras até veados, os pesquisadores cearenses têm replicado diferentes espécies com variados propósitos, que vão desde a descoberta de novos medicamentos até a preservação de espécies ameaçadas de extinção.
Na Universidade Estadual do Ceará (UECE), a ênfase recai sobre as questões ambientais. Há aproximadamente 5 anos, os cientistas do Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução (LFCR) estão engajados na criação de clones do veado-catingueiro, visando impedir a extinção dessa espécie animal.
Vicente Freitas, docente da Faculdade de Veterinária (FAVET/Uece) e pesquisador do Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução (LFCR), destaca que o veado-catingueiro é "o único cervídeo encontrado no Nordeste do Brasil" e enfrenta a ameaça iminente de extinção nos anos vindouros, decorrente dos impactos causados pela atividade humana.
O professor ressalta que, entre todas as ameaças, o tráfico é a ação mais danosa. Nesse contexto, ocorre o lamentável cenário em que "o traficante mata a mãe e aprisiona o filhote". De acordo com Vicente, filhotes de veado-catingueiro chegam a ser ofertados em páginas na internet por valores que alcançam até R$ 10 mil.
Devido à diminuta população de veados-catingueiros, o processo de clonagem realizado pelos pesquisadores é "interespecífico": em vez de utilizar óvulos do cervídeo, são empregadas células da pele para obter o material genético. Essas células, combinadas com óvulos de vacas e cabras, resultam na formação bem-sucedida de embriões.
O objetivo principal, reforça Vicente, “é multiplicar o número de indivíduos e aumentar a população silvestre” de veados-catingueiros. “Não queremos mantê-los em cativeiro, mas introduzi-los na natureza”, finaliza.
Se de um lado a clonagem visa à preservação de uma espécie e da biodiversidade do Ceará, do outro o objetivo está ligado à saúde. Na Universidade de Fortaleza, pesquisadores clonam cabras, desde 2009, para produção de biofármacos.
Leonardo Tondello, professor de Medicina Veterinária e pesquisador do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Unifor, explica que a clonagem dos caprinos “é uma ferramenta de produção” desses medicamentos, voltados tanto à saúde humana quanto à animal.
Leonardo pontua que os biofármacos “são medicamentos que precisam de algum organismo vivo para serem produzidos, drogas altamente inteligentes e específicas, com baixíssimos riscos de efeitos colaterais”.
A clonagem permite, então, que os cientistas produzam animais geneticamente modificados, e obtenham, a partir do leite deles, um anticorpo chamado “anti-VEGF”, eficaz para reduzir o tamanho de tumores cancerígenos e inibir a multiplicação deles pelo organismo.
“Os biofármacos hoje são utilizados no tratamento das doenças mais complexas, como cânceres e doenças autoimunes. O câncer de mama, por exemplo, leva no tratamento a quimioterapia e um anticorpo monoclonal, que é um biofármaco”, frisa.
O pesquisador do Nubex afirma que alguns biofármacos ainda estão “em ambiente laboratorial”, mas que, em breve, “a pesquisa vai alcançar o desdobramento que se almeja: a conexão direta com a saúde humana e animal”.
Isso porque o projeto “Plataforma animal: uma solução para a indústria farmacêutica nacional preencher lacunas na cadeia produtiva de biofármacos” foi um dos vencedores do edital “Programa Pesquisador Empreendedor – Formação de Spin-Offs Acadêmicas”, da Funcap.
O objetivo é financiar “projetos com potencial de inserção no mercado e geração de impacto socioeconômico para o Ceará”. As “spin-offs”, explica a fundação, “são empresas que se originam nas universidades a partir de inovações resultantes de atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação que já apresentam elevado nível de maturidade tecnológica”.
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