DUAS GERAÇÕES; MÃE E FILHO APRENDEM A LER JUNTOS NO ALFABETIZA PIAUÍ.


Maria de Lourdes, 86 anos, e Pedro Neto, de 63, ganharam seus certificados após seis meses de aulas no CETI Raimundo Pessoa, em Monsenhor Gil-PI.

Maria de Lourdes e Pedro neto, mãe e filho | Foto: Ana Ilza Medeiros/ Portal Meio News

Oportunidade é a palavra chave! Ler e escrever é um direito de todos, por isso, muitas pessoas que não tiveram oportunidade de estudar na época certa, agora abraçam uma nova chance de sair da escuridão do saber. Esse é o caso de mais de 500 idosos piauienses que, graças a iniciativa do programa Alfabetiza Piauí, puderam resgatar o conhecimento perdido.

Entre esses muitos estudantes que receberam seus certificados em uma emocionante celebração realizada na noite de quinta-feira (10), no Theresina Hall, está uma dupla que divide a sala de aula e laços de sangue: Maria de Lourdes da Costa Araújo, 86 anos e, Pedro Neto da Costa Araújo, de 63. Naturais do município de Monsenhor Gil, a 61 km de Teresina, mãe e filho frequentaram por seis meses o CETI Raimundo Pessoa.

Vieram atrás de mim perguntando se eu queria estudar e eu disse que não queria, porque não tinha mais idade pra essas coisas. Eu disse: "já passou do tempo de eu estudar", e repetiam que eu ia, eu dizia que não ia, até eu dizer "ta bom''. Fui e achei foi ruim quando terminou, mas foi muito bom esses seis meses. Mas foi difícil, quando a gente entra é difícil sim, aí depois de uns 2 meses adiante, a gente foi fazendo tudo direitinho, disse Maria de Lourdes.
NUNCA É TARDE

A realidade de Maria de Lourdes é a mesma de muitas pessoas Brasil afora, a vulnerabilidade social e a necessidade econômica, a fizeram trocar a sala de aula tempos atrás para ajudar o pai nas plantações quando era ainda bem pequena. A escola era longe de casa, e a aluna tinha que se deslocar para a residência de conhecidos para não perder o pouco que podia para aprender. Até dona Maria sair de vez da escola, e retornar 70 anos depois.

Pedro Neto da Costa Araújo, de 63 anos, é um dos filhos mais velhos de Maria, o único dos irmãos que não sabia usar um lápis ou caneta para assinar a sua identidade. Ele conta, com emoção, a dificuldade que foi entrar novamente à sala de aula, e o quanto a companhia de sua mãe facilitou o processo.

Eu não queria ir, aí minha mãe e minha irmã disseram "ele vai", e eu disse "não vou não, se eu mando em mim", mas aí eu fui. Porque me incomodava também que meus irmão tudinho sabia escrever e ler e eu não. Mas fui, e sentava pertinho dela, aí quando ela tava fazendo as coisas e eu via que tava errado eu ia lá e dizia que não era desse jeito não, e ela dizia que era, e ela fazia igual também. Faltei algumas vezes pra assistir o jogo e ela (Maria de Lourdes) brigava comigo.

Mãe e filho aprendem a ler e escrever juntos no Alfabetiza Piauí
Crédito: Ana Ilza Medeiros
Crédito: Ana Ilza Medeiros

RESGATE DE SONHOS

"Aprendi até a conversar. As vezes eu falo umas palavrinhas mais certas, lá a Adriana (professora) explicava direitinho como a gente tinha que fazer as coisas e a gente aprendeu tudo graças a Deus", disse Maria ao tentar explicar que conhecer as palavras agora as familiarizou mais com a comunicação entre ela e outras pessoas.
Eu não tenho inveja de quem tem as coisas, agora de quem sabe ler, eu tenho. Hoje, eu digo que se eu soubesse ler antes eu ia estudar e ser uma delegada. Porque eu acho bonito aquele fardamento. Tenho visto é muito na televisão as delegada, acho bonito demais.

Já Pedro, mostrou sua gratidão ao ofício que lhe fez conhecer as letras e afirmou que seria um professor: " um professor ganha bem, e seria até mais fácil pra viver também", exclamou.
ALFABETIZA PIAUÍ

Mãe e filho são uma história de superação e oportunidade entre as tantas de alunos do programa Alfabetiza Piauí, que, desde seu lançamento em junho de 2024, já beneficiou mais de 13 mil pessoas em 215 municípios do estado — um marco importante na luta contra o analfabetismo no Piauí.

Edvaldo da Costa, diretor do Ceti Raimundo Pessoa, escola que acolheu mais de 30 alunos da terceira idade para a formação do programa, explicou como funciona a dinâmica da alfabetização.

Os alunos chegam à escola às 18h e permanecem até às 21h em atividades com o professor, e ao longo desse horário, eles também tem intervalo, que é quando eles ganham um jantar. E a gente tem duas turmas que funcionam aqui na escola, uma delas é a que a dona Maria de Lourdes e o seu Pedro concluíram essa etapa de ensino juntos, mãe e filho, e os dois já estão matriculados para a etapa dois do ensino, que representa já o ensino fundamental.

Evaldo, Maria de Lourdes e Pedro Neto no Ceti Raimundo Pessoa. Foto: Ana Ilza Medeiros.

O secretário de educação, Washington Bandeira, informou que o crescimento no número de alunos matriculados no programa foi resultado de várias fases de busca ativa, além da concessão de bolsas de R$ 600 reais, pagas pelo governo do estado. Ele aponta ainda que, apesar de 14 mil matriculados atualmente, a meta é chegar em 100 mil alunos.

O DIA.COM - TERESINA

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