FAMÍLIAS ATINGIDAS PELA MINERAÇÃO EM CURRAL NOVO CLAMAM POR JUSTIÇA. VEJA O DRAMA!
Esperança,
luta, coragem e união foram os sentimentos expressados pelas famílias que
sofrem ameaça de desapropriação das suas terras por causa da exploração de
minérios na região de Curral Novo, em reunião que aconteceu na última
quinta-feira (22), na comunidade Baixio dos Melos, localizada a 32 quilômetros
do município de Curral Novo (PI).
Mais de 50
agricultores/as de dez comunidades que serão atingidas pela exploração de uma
mineradora participaram do encontro com o intuito de buscar forças e soluções
para amenizar a situação. A reunião foi idealizada pela Cáritas Diocesana de
Picos em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), juntamente com o
bispo diocesano de Picos, dom Plínio José. As pessoas que participaram da reunião partilharam as impressões causadas pela
última audiência, que aconteceu no dia 14 de abril, naquele município. O
sentimento coletivo era de insatisfação com a audiência, de onde esperavam
tirar solução respostas concretas para amenizar os seus sofrimentos.
“Aquela audiência não foi suficiente. Nós saímos de lá pior do que entramos.
Não tivemos respostas de nada, sequer das perguntas que foram feitas. Foi uma
reunião que não trouxe solução de nada. Não sabemos, até hoje, o que fazer das
nossas vidas”, relata dona Maria Luzinete Coelho, da comunidade Juá.
Assim como os demais moradores, ela está sendo pressionada a vender suas terras
pelo preço proposto pela empresa do Grupo Bemissa, o equivalente a mil e
quinhentos reais por hectare. No entanto, dona Luzinete se mantém firme e
segura de que não quer vender suas terras.
“Eu poderia até vender ou arrendar as minhas terras, mas minha preocupação
maior é com meus vizinhos. Eu sei as consequências que eles podem sofrer. Nós
queremos gritar por justiça, porque isso tudo só está acontecendo por causa dos
nossos governantes, que não têm compromisso com o povo. É muito humilhante
viver nessa situação”, conta dona Luzinete.
Para Fabiana Araújo, uma das dificuldades encontradas até agora são as pressões
feitas a partir de visitas constantes dos funcionários da empresa para a venda
das terras. “A maneira como eles estão conduzindo essas negociações tem deixado
a desejar. Eles não estão valorizando o que levamos anos para construir, como
nossas casas, criatórios, cercas, pastos, poços e barreiros. Já foi feito apelo
por uma audiência pública. Porém, até agora, não encontramos nenhuma resposta
para esse nosso sofrimento, essa angústia. Alguém tem que nos ouvir”.
O desespero de Fabiana não é apenas por ela, mas por todas as famílias que
estão envolvidas nesta conjuntura. “Eu não falo apenas em meu nome, mas em nome
de mais de 100 famílias que vivem nessa situação de preocupação e desespero, de
não saber o que vai ser do amanhã. Eu vou vender minha terra, mas como é que eu
vou recomeçar? Tenho preocupação com as pessoas idosas, que têm mais
dificuldade de readaptação. Minha mãe, por exemplo, tem mais de 60 anos e eu
vejo essa preocupação no rosto dela, essas incertezas do amanhã”.
Durante a reunião, vários encaminhamentos foram feitos, dentre eles estão a
formação de uma comissão organizadora, a construção de um relatório que conte a
história das comunidades afetadas, a busca de apoio jurídico e planejamento
para articulação dos moradores.
Pe. Miguel Feitosa, da paróquia de Simões, esteve presente na reunião,
manifestando o seu comprometimento e apoio às famílias. Ele avaliou a reunião
de forma positiva, sobretudo nos termos dos encaminhamentos. “A reunião foi
muito útil. Depois da audiência em Curral Novo, não houve oportunidade de
reunir as pessoas que participaram. Pela primeira vez tivemos a oportunidade de
conversar sobre a audiência. Outro ponto importante é a possibilidade de um
estudo juntos com os advogados para conhecer melhor as leis, aquilo que compete
a nós, de maneira a nos dar forças para lutar por nossos direitos”.
O bispo diocesano, Dom Plínio, participou ativamente da reunião e afirmou que o
posicionamento da Igreja é de estar ao lado do povo. “A Diocese já deu o
primeiro passo, quando foi cobrada a sua presença. Me sinto contente de
participar desse momento, que faz parte das atividades da vida da Igreja, de
estar ao lado do povo. As consequências desse projeto devem ser aprofundadas,
sobretudo para que as pessoas possam realmente inteirar do que estão abraçando,
do que envolve suas vidas. Também a comissão e os advogados que virão. O
relatório que contará a sua própria história vai facilitar muito, porque será
enviado a todas as comunidades da Diocese, pois somos Igreja que partilha
também os sofrimentos”.
Segundo Dom Plínio, o povo está apreensivo diante da realidade em que se
encontra. “As pessoas querem saber o que deve ser feito. Essa esperança hoje
foi iluminada. Nós não demos soluções, nós apontamos caminhos. Percebemos que
há uma liderança entre eles. Muitas dessas pessoas sabem argumentar e
falar do assunto com segurança. Na hora em que a maioria tomar consciência,
eles podem se unir e conquistar um final contentador. Nós queremos ir até o
fim”, concluiu o bispo.

Fonte: Diocese de Picos







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