LULA: PT 'NÃO NASCEU PARA SER PARTIDO DE APOIO' E 'VAI POLARIZAR EM 2022'
Foto: ricardostuckert/instagram/lulaoficial
O ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) fez nesta quinta-feira, 14, seu primeiro
pronunciamento para o partido, durante a Executiva Nacional do PT, em Salvador,
na Bahia. Em meio a discussões de que o PT poderia compor candidaturas de
outros partidos de esquerda nas eleições municipais do ano que vem, Lula disse
que a legenda "não nasceu para ser partido de apoio" e que deve
lançar candidatos em todas as cidades possíveis.
Afirmou, ainda, que o partido não precisa fazer nenhuma
autocrítica. Durante discurso, citou praticamente todos os possíveis candidatos
à Presidência em 2022, com críticas e ironias ao presidente Jair Bolsonaro, ao
governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e ao apresentador de TV Luciano
Huck.
Ao falar de Bolsonaro, Lula voltou a ligar o nome do presidente
ao de milicianos e ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e de
seu motorista Anderson Gomes. "Bolsonaro, não pense que eu quero brigar com
esses milicianos. Não quero, essa briga resultou na (morte de) Marielle".
Lula voltou a criticar a condução econômica do governo federal,
numa demonstração do que deve ser o mote de sua atuação na oposição e atacou de
forma rápida o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a quem
chamou de "canalha".
"Eu poderia ter ido para uma embaixada, mas tomei a decisão
de ir para pertinho do Moro, para provar o canalha que ele foi ao me
julgar", afirmou Lula, em referência à sentença de Moro, quando era juiz
da Lava Jato, no caso do triplex do Guarujá, em que o petista foi condenado por
corrupção e lavagem de dinheiro.
De acordo com o ex-presidente, o objetivo da operação teria sido
tirar o PT da presidência. "Não quero me vingar de ninguém. Eu vou viver
um pouco mais, porque hoje está claro na minha cabeça o que foi a Lava Jato e o
por quê de tanta estigmatização e ódio ao PT. (...) Eles julgaram o meu mandato
e não a mim".
Acompanhado da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR),
presidente do partido, e de Fernando Haddad, candidato derrotado à Presidência
em 2018, Lula ainda criticou medidas recentes do governo de Jair Bolsonaro,
como a MP do programa Verde e Amarelo, a reforma tributária, e o leilão da
Petrobras. "Ele é como um desses desastres que acontecem de vez em quando.
(...) Agora, estão querendo taxar até o salário-desemprego, criar emprego onde
o cara não terá nenhum direito. É quase voltar ao tempo da escravidão",
afirmou.
Recado ao partido
Ao falar da disputa eleitoral de 2022, Lula afirmou que pode
subir a rampa do Palácio do Planalto com Haddad ou com o governador da Bahia
Rui Costa. "Eles não vão tirar o PT da disputa eleitoral deste País com
Lula ou sem Lula. Eu posso subir a rampa do Palácio do Planalto novamente em
2022 levando Haddad, Rui e outros companheiros. O PT não nasceu para ser um
partido de apoio", enfatizou o ex-presidente. "Nós vamos lançar
candidaturas em todas as cidades que for possível. Quem vai defender a Dilma?
Nós somos uma família."
O recado dado às lideranças do partido também foi claro: o PT
deve se fortalecer internamente. Segundo ele, o partido deve apostar na
polarização. "Sabe quem polariza? Quem disputa o título. O PT polarizou em
1989, 94, 98, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018, e vai polarizar em 2022".
Segundo Lula, toda eleição surgem nomes novos, como o de Huck.
"Todo ano, eles têm que inventar um candidato. Agora vai ser o 'Caldeirão
do Huck'. Huck e [João] Doria é como pausa e menopausa. (...) Podem inventar quem
quiser, eles não vão conseguir tirar o PT da disputa eleitoral desse
País".
O ex-presidente negou a necessidade de que o partido faça uma
autocrítica. O próprio governador da Bahia já declarou que o partido precisa
rever sua atuação, em entrevista à revista Veja no último mês de outubro.
"Tem companheiro do PT que também fala que tem que fazer autocrítica. Faça
você a crítica. Eu não vou fazer o papel de oposição. A oposição existe para
isso", argumentou.
"Você já viu alguém pedir ao FHC para fazer autocrítica? Ao
Bolsonaro? É só o PT. E eu, pra não ficar doente, tenho que reconhecer a
autocrítica. Quem quiser que o PT faça autocrítica, faça a crítica você. É para
isso que existe a oposição."
Lula deu a entender, ainda, que o partido deve se aproximar mais
de suas origens, evocando mais uma vez o discurso de classes para explicar o
"ódio" que parte da população tem contra o partido. "O PT tem
que sair desse momento histórico mais forte. Nós temos que saber é o que o
nosso povo vive no seu dia a dia". Segundo o petista, a esquerda
brasileira "conhece muito mais sobre os heróis da revolução russa, cubana
e chinesa, do que os nossos próprios heróis".
A ideia geral do tom que o ex-presidente deve adotar daqui para
frente, apurou a reportagem, é a do líder pacificador e responsável por
dialogar com setores políticos de esquerda e centro para fazer frente às forças
do presidente Bolsonaro, sem confrontos diretos com o chefe do Executivo
nacional.
Além disso, o PT acredita que a imagem de Lula deve fazer
remissão aos tempos de prosperidade econômica quando era presidente
(2003-2010).
A reunião foi fechada à imprensa, com a transmissão ao vivo de
alguns momentos via Facebook.
No lado de fora do Hotel Wish, onde o evento com a comitiva
petista foi realizado, no centro da capital baiana, cerca de 200 militantes
aguardavam que o ex-presidente acenasse na sacada da edifício, o que não
aconteceu. Lula deve passar o fim de semana na Bahia, em uma praia do litoral
norte (não informada), ao lado da namorada, a socióloga Rosângela da Silva.
Fonte: Estadão
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