NÃO QUEREMOS NEGOCIAR NADA, DIZ BOLSONARO EM ATO PRÓ-INTERVENÇÃO MILITAR DIANTE DO QG DO EXÉRCITO
FONTE: FOLHAPRESS
Em cima da caçamba de
uma caminhonete, diante do quartel-general do Exército e se dirigindo a uma
aglomeração de pessoas pró-intervenção militar no Brasil, o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) afirmou neste domingo (19) que "acabou a época da
patifaria" e gritou palavras de ordem como "agora é o povo no
poder" e "não queremos negociar nada".
"Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo
Brasil", declarou o presidente, que participou pelo segundo dia seguido de
manifestação em Brasília, provocando aglomerações em meio à pandemia do
coronavírus. "Chega da velha política. Agora é Brasil acima de tudo e Deus
acima de todos."
"Todos têm que ser patriotas, acreditar e fazer sua parte
para colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da
patifaria. É agora o povo no poder. Mais que direito, vocês têm a obrigação de
lutar pelo país de vocês", afirmou Bolsonaro, que tossiu e levou a mão à
boca ao final do discurso.
"O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo
Brasil pela frente", afirmou Bolsonaro. "Todos no Brasil têm que
entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro."
A escalada do tom de Bolsonaro ocorre em um momento de
isolamento político do presidente. Reportagem da Folha de S.Paulo deste sábado
mostrou que os adversários de Bolsonaro, e hoje ele os tem em todas as esferas
de poder, desistiram de uma acomodação com o presidente.
A avaliação prevalente, ouvida pela reportagem nas cúpulas do
Legislativo, do Judiciário e em estados, é a de um paradoxo: a fraqueza
política de Bolsonaro só tende a acirrar sua agressividade no embate, o que
ocorreu neste final de semana em Brasília.
No sábado, na rampa do Planalto diante da Praça dos Três
Poderes, Bolsonaro afirmou que a política de enfrentamento ao novo coronavírus
"mudou um pouco" desde a sexta (17) -quando houve a troca de Luiz
Henrique Mandetta por Nelson Teich no Ministério da Saúde- e voltou a se
queixar de prefeitos e governadores por adotarem medidas de isolamento social.
Bolsonaro também responsabilizou o STF (Supremo Tribunal
Federal) por determinar que os demais entes federados têm poder para ordenar o
fechamento de comércios. Neste momento do vídeo em que falou aos seguidores,
Bolsonaro apontou o dedo para a sede do Supremo, do outro lado da praça.
Só na semana passada, o presidente criticou o Supremo Tribunal
Federal, sugeriu que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, conspirava para
derrubá-lo e ainda agudizou a crise do coronavírus ao demitir seu ministro da
Saúde.
O presidente nega a gravidade da pandemia e promove passeios e
aglomerações em Brasília, ao contrário do que recomenda a OMS. Bolsonaro
demitiu seu então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, por discordar de
seu posicionamento técnico sobre a pandemia.
Além da gestão Bolsonaro, outros governos que ignoram a
seriedade da doença são Turcomenistão, Nicarágua e Belarus.?
Como mostrou a Folha de S.Paulo neste domingo, Bolsonaro tem intensificado estratégia de blindagem política para tentar evitar que os efeitos da pandemia sejam usados contra ele na disputa eleitoral de 2022.
Como mostrou a Folha de S.Paulo neste domingo, Bolsonaro tem intensificado estratégia de blindagem política para tentar evitar que os efeitos da pandemia sejam usados contra ele na disputa eleitoral de 2022.
O plano consiste, neste primeiro momento, na defesa pública de
que o coronavírus se trata de uma adversidade pequena, que não justifica
medidas restritivas que podem aumentar o desemprego no país.
A ideia é que, ao se antecipar agora sobre os impactos
econômicos que são praticamente inevitáveis, o presidente explore, na corrida
eleitoral, a retórica de que a sua postura era desde o início a mais acertada,
mesmo que contrariando as recomendações das autoridades de saúde.
Neste domingo, além de Brasília, há manifestações em curso em
diferentes pontos do país, como Salvador, São Paulo e Manaus. Além de ataques
ao Supremo e ao Congresso e de pedidos pela volta do regime militar, os
manifestantes pedem a volta ao trabalho e a abertura do comércio.
Há discursos em defesa do isolamento vertical, quando só os
grupos de risco ficam em isolamento. Em Brasília, no ato que teve a
participação de Bolsonaro, a volta à normalidade e a reabertura do comércio
também estavam na pauta dos manifestantes.
No quartel-general do Exército, o grupo era formado por algumas
centenas de pessoas, muitos com faixas pedindo um novo AI-5 e intervenção
militar. Ao verem Bolsonaro chegar, os manifestantes se aglomeraram para ouvir
o presidente.
Além de defender o governo e clamar por um novo AI-5 -o mais
radical ato institucional da ditadura militar (1964-1985), que abriu caminho
para o recrudescimento da repressão- os manifestantes aglomerados em frente ao
quartel-general defenderam o fechamento do STF e miraram no presidente da
Câmara, Rodrigo Maia .
As carreatas pelo país com apoio de Bolsonaro neste domingo
ocorrem no momento em que o número de mortes pelo coronavírus chegou a 2.347 no
Brasil. Em 24 horas, foram registrados 206 óbitos pela doença. Os dados foram
divulgados neste sábado pelo Ministério da Saúde. Ao todo, são 36.599 casos
confirmados.
De acordo com o balanço, o índice de letalidade do novo vírus,
em relação ao total de casos, está em 6,4%. No dia anterior eram 33.682 casos e
2.141 mortes.
O ministério, porém, afirma que a tendência é que o número real
de casos seja maior, já que apenas pacientes internados em hospitais fazem
testes e há casos que ainda esperam confirmação. Reportagem da Folha de S.Paulo
mostrou que equipes de atenção básica em várias cidades e estados afirmam que
tem havido subnotificação.
As carreatas pelo fim do isolamento ocorrem no momento em que
apoio à quarentena como forma de evitar a disseminação do novo coronavírus
sofreu uma queda nas duas últimas semanas, mas ainda é majoritária entre os
brasileiros.
Segundo o Datafolha, são 68% aqueles que dizem acreditar que
ficar em casa para conter o vírus é mais importante, ainda que isso prejudique
a economia e gere desemprego.
No levantamento anterior do instituto, feito de 1º a 3 de abril, eram 76%. A pesquisa atual ouviu 1.606 pessoas na sexta (17) e tem margem de erro de três pontos percentuais.
No levantamento anterior do instituto, feito de 1º a 3 de abril, eram 76%. A pesquisa atual ouviu 1.606 pessoas na sexta (17) e tem margem de erro de três pontos percentuais.
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