BRASIL ENTRA EM REDE GLOBAL DE PRODUÇÃO DE VACINAS CONTRA COVID-19
Foto: Roberta Aline/Cidadeverde.com
ANA
ESTELA DE SOUSA PINTO
BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS)
BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS)
Trinta países, entre
eles o Brasil, anunciaram a criação de uma força-tarefa para fazer vacinas,
testes, tratamentos para combater o coronavírus, e produzi-los em escala
suficiente para atender a todos os países.
Idealizado pela Costa Rica e coordenado pela OMS, o C-TAP (união
de acesso à tecnologia para a Covid-19) vai trabalhar em rede para compartilhar
informações e dar acesso às tecnologias desenvolvidas em cinco áreas: 1)
divulgação pública de sequenciamento genético, 2) transparência na publicação
de todos os resultados de ensaios clínicos, 3) licenciamento de potenciais
tratamento, diagnóstico, vacina ou outra tecnologia de saúde para o Pool de
Patentes de Medicamentos -um órgão de saúde pública apoiado pelas Nações
Unidas, 4) promoção de modelos de inovação aberta e transferência de tecnologia
e 5) inclusão de cláusulas que prevejam distribuição equitativa, acessibilidade
e publicação de dados de ensaios nos acordos de financiamento de laboratórios e
startups.
Dos 30 que anunciaram adesão à iniciativa, apenas quatro são
países desenvolvidos, todos europeus: Luxemburgo, Noruega, Portugal e Holanda.
A OMS afirmou que ainda não há definição sobre qual será a
atuação do Brasil no desenvolvimento e produção de tratamentos e vacinas, o que
será feito "nos próximos passos" do projeto. A entidade não informou
se há um calendário para os próximos passos.
Segundo Akira Homma, assessor científico sênior do Instituto de
Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, da Fiocruz, o país teria
condições de entrar em pelo menos três fases do processo: no desenvolvimento de
vacinas, nos testes clínicos de fase 3 (que precisam ser feitos em um país onde
a pandemia ainda esteja ativa) e na fabricação dos produtos em grande escala.
Uma das vantagens competitivas do país, segundo ele, é a unidade
piloto de vacinas de Bio-Manguinhos, "com todas as características de boas
práticas de fabricação, que pode produzir para estudos clínicos e fazer o
escalonamento de produção".
Homma diz que pesquisas para o desenvolvimento de vacinas contra
a Covid-19 feitas em diferentes centros diferentes, como USP, Incor e Fiocruz
de Belo Horizonte, trabalhando com diversas alternativas tecnológicas, poderiam
potencialmente participar do pool global.
Esses institutos têm parcerias com instituições estrangeiras e
podem buscar alianças para acelerar suas pesquisas, afirma o assessor
científico.
As instalações de produção industrial da própria Bio-Manguinhos
e do Instituto Butantã podem ser importantes quando uma vacina viável for
descoberta. "Laboratório nenhum no mundo consegue produzir a quantidade
necessária em escala global", diz ele.
Além disso, o mais provável é que, quando houver vacinas para
serem testadas na população, o número de casos de Covid-19 já esteja muito
baixo em países desenvolvidos, e seja preciso fazer os experimentos em outras
regiões, como o Brasil.
No desenvolvimento de uma vacina, ela é primeiro testada em
células em laboratório, depois em animais, e então passa a estudos clínicos com
seres humanos.
Na fase 1 é testada a segurança, em grupos de 40 ou 50 pessoas;
na fase 2, calibram-se as dosagens corretas para diferentes grupos e na fase 3
a vacina é aplicada em uma amostra da população que esteja exposta à doença,
para que seja avaliada sua eficácia. É nesse momento que o Brasil pode ser um
local propício para os experimentos.
Nesta pandemia, para acelerar as pesquisas, as várias fases
estão acontecendo em paralelo, em vez de sequencialmente (o que poderia levar
de 10 a 15 anos), e a OMS já deu OK para testes ainda mais acelerados, chamados
de challenge, em que o vírus é inoculado em pacientes que tomaram a vacina,
para verificar se ela protege contra a infecção.
"Esse tipo de teste já foi feito em humanos para doenças
como cólera, febre tifóide e influenza, e permite definir a eficácia num tempo
curtíssimo", diz o cientista.
Até
esta segunda, o C-TAP incluía também Argentina, Bangladesh, Barbados, Belize,
Chile, República Dominicana, Equador, Egito, Indonésia, Líbano, Malásia,
Maldivas, México, Moçambique , Omã, Paquistão, Palau, Panamá, Peru, São Vicente
e Granadinas, África do Sul, Sudão, Timor-Leste e Uruguai
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