'E DAÍ? LAMENTO, QUER QUE EU FAÇA O QUÊ?', DIZ BOLSONARO SOBRE RECORDE DE MORTOS POR CORONAVÍRUS
474 MORTES EM 24H
JULIA CHAIB E DANIEL CARVALHO
(FOLHAPRESS)BRASÍLIA, DF
O presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) disse, nesta terça-feira (28), lamentar mas não ter o que fazer em
relação ao novo recorde de mortes pelo novo coronavírus registradas em 24
horas, com 474 óbitos, ultrapassando a China no número total de óbitos.
"E daí? Lamento. Quer que eu faça
o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre", afirmou ao ser questionado
sobre os números.
Em entrevista na porta do Palácio da
Alvorada, Bolsonaro disse que cabe ao ministro da Saúde, Nelson Teich, explicar
os números.
"Eu tenho que falar com o
ministro, ele que fala de número. Eu não falo sobre a questão da saúde. Talvez
eu leve na quinta-feira para fazer uma live aqui.
Ninguém nunca negou que teríamos
mortes", disse.
O recorde diário anterior do Brasil era
de 23 de abril, com 407 novas vítimas. O país é agora o nono com mais mortes no
mundo. Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, ao todo 5.017
pessoas morreram por Covid-19. A China, por sua vez, registra 4.637 mortos,
segundo a Universidade Johns Hopkins, nos EUA, que monitora a pandemia,
A primeira morte por coronavírus na
China (e no mundo) foi confirmada em 11 de janeiro. No Brasil, a confirmação do
primeiro óbito ocorreu em 17 de março.Em número de pessoas infectadas, o país
tem 71.886 casos confirmados e está em 11º lugar, ainda atrás da China, que tem
83.938 casos.
"As mortes de hoje, a princípio,
essas pessoas foram infectadas há duas semanas.
É o que eu digo para vocês: o vírus vai
atingir 70% da população, infelizmente é a realidade. Mortes vão haver. Ninguém
nunca negou que haveria mortes", continuou o presidente.
Depois de questionar e ouvir que sua
entrevista estavam sendo transmitidas ao vivo em redes de televisão, Bolsonaro
buscou dar uma uma declaração mais amena sobre o assunto.
"Lamento a situação que nós
atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus
entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã
vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna,
né? E deixar uma boa história para trás", disse o presidente.
Apesar de não ter falado sobre nenhuma
proposta para conter a transmissão do coronavírus, Bolsonaro voltou a dizer que
está preocupado com a situação econômica e o aumento do desemprego no país. Ele
disse que conversou nesta terça com um grupo de 200 empresários do Rio de
Janeiro e conversou com eles sobre a reabertura das atividades econômicas.
"O próprio pessoal da Firjan
(Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) de hoje disse que tem
que ser retomado."
O presidente disse que o assunto já
havia sido discutido com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo e afirmou ainda que pediu ao Ministério da Saúde que elabore um parecer
sobre a retomada de campeonatos de futebol em estádios sem torcidas e com
portão fechado.
"Ele (o ministro da Saúde) vai
estudar, se for o caso, dar um parecer favorável neste sentido",
complementou o presidente.
Embora tenha feito o pedido, Bolsonaro
disse que não vai "obrigar" Teich a determinar a reabertura de
atividades pelo país.
"Não vou dar parecer [sobre
relaxamento do isolamento social]. Não vou obrigar o ministro da Saúde a fazer
nada. Eu sugiro para todos os ministros. Hoje tive reunião de ministros e fiz
várias sugestões", afirmou.
O presidente ainda foi questionado
sobre decisão judicial que garantiu ao jornal "O Estado de S.Paulo"
acesso ao resultado de seus exames para Covid-19. Ele afirmou que a lei garante
o anonimato dos exames e repetiu que não teve coronavírus.
"Vocês não me viram rastejando
aqui, com coriza, eu não tive [Covid-19]", disse. "Quero mostrar que
eu tenho o direito de não mostrar [os exames]", continuou Bolsonaro.
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