AOS 50 ANOS MULHER COM DEFICIÊNCIA É APROVADA NA UFPI, ERA UM GRANDE SONHO.

As dificuldades enfrentadas por Joana Pereira Filha não a impediram de ser aprovada no curso de Ciência Política na Universidade Federal do Piauí (UFPI). Aos 50 anos e com uma deficiência física causada por um acidente de trânsito, a piauiense conquistou a vaga na instituição de ensino e ainda comemorou ao som das tradicionais marchinhas.

“Quando vi o resultado achei que fosse ‘fake’, falha no sistema. Era um grande sonho. Minha mãe vivia cantando ‘põe a vitrola pra tocar, pode soltar foguete que eu passei no vestibular’. E agora eu passei na federal. Minha deficiência não me limita”, contou Joana.

Acidente

Joana sofreu o acidente no ano de 2002. Ela voltava para casa, na Zona Rural de Altos, com o filho e um sobrinho em uma moto, quando um carro, que estava em alta velocidade, os atropelou ao realizar uma ultrapassagem.

A mulher sofreu fraturas em uma das pernas e foi encaminhada ao Hospital Getúlio Vargas (HGV). Após a alta, Joana passou por um longo processo de reabilitação e foi voltando para a rotina de trabalho e estudos.

“Pegava os livros, estudava em casa e ia fazer as provas. Me acidentei, engravidei e tive que parar de estudar por um tempo. Quando voltei, consegui concluir o ensino fundamental e iniciar o médio, onde eu fazia dois anos em um. Foi muito sacrifício, mas deu tudo certo”, lembrou.

Aos 50 anos, Joana foi aprovada na Universidade Federal do Piauí  — Foto: Arquivo Pessoal

Aos 50 anos, Joana foi aprovada na Universidade Federal do Piauí — Foto: Arquivo Pessoal

Joana voltou a estudar para fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Ela também se preparou para fazer um concurso público da Prefeitura de Altos, onde foi aprovada para o cargo de auxiliar de serviços diversos. Hoje a piauiense é atendente de consultório em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município.

Joana já foi provada em Ciências Biológicas (2014) e Gestão ambiental (2017), no Instituto Federal do Piauí (IFPI) — Foto: Arquivo Pessoal

Joana já foi provada em Ciências Biológicas (2014) e Gestão ambiental (2017), no Instituto Federal do Piauí (IFPI) — Foto: Arquivo Pessoal

Em 2013, Joana continuou os estudos e concluiu o ensino médio usando a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos anos seguintes, foi aprovada em Ciências Biológicas em 2014 e Gestão ambiental em 2017, ambas as aprovações no Instituto Federal do Piauí (IFPI). Entretanto, ela não chegou a cursar porque o horário dos cursos coincidiam com o do trabalho.

“Nunca me deixei abater mesmo com tantas batalhas. Fui aprovada, mas infelizmente não pude cursar porque minha prioridade naquele momento era meu emprego que eu dependia para sobreviver. Precisei escolher”, disse.

Perda do pai

A aprovação no curso de Ciência Política da UFPI, veio em um momento de luto vivido por Joana. Em janeiro de 2020, ela perdeu o pai, Manoel da Costa Lima, de 96 anos, para o câncer.

“Meu pai faleceu de câncer de pulmão nos meus braços. Ele foi o homem mais forte que já conheci na minha vida. Agora ganhei essa alegria da aprovação”, comentou Joana.

Aprovada também enfrentou a Covid-19

A atendente de consultório teve Covid-19 duas vezes em 2020. Com 70% dos pulmões comprometidos, Joana chegou a ficar internada por oito dias em um hospital de Altos e depois mais seis dias no Hospital de Doenças Tropicais Natan Portella, em Teresina.

“Na primeira vez tive sintomas leves que inicialmente foi confundido como infeção urinária. Fiquei isolada e me recuperei bem. Já a segunda vez foi muito forte e eu sentia muita dor no corpo, febre, dor no peito e pneumonia. Era um sentimento muito ruim, pois meu esposo e meus filhos também estavam contaminados e isolados em casa”, completou Joana.

Naftaly Nascimento*, estagiária sob a supervisão de Laura Moura.

Fonte: G1 Piauí

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